Hoje, dia 15 de Julho, é comemorado o Dia do Homem. No entanto, diante de tantos casos de violência contra a mulher e o público LGBTQIA+ nas suas mais cruéis e diversas formas apresentados na mídia nos últimos tempos, será que temos mesmo o que celebrar?

Para nós, essa é uma data que pede reflexão para homens e mulheres, tanto enquanto indivíduos, quanto como pais que criarão os futuros homens e mulheres da nossa sociedade. Até porque sabemos que muitos desses comportamentos masculinos considerados “tóxicos” atualmente são reflexos de raízes patriarcais que, dentre seus vários desdobramentos, estimula o consumo da pornografia de forma prejudicial e reforça estereótipos de gênero ultrapassados.

A masculinidade tóxica e os estereótipos de gênero

São poucos os homens que não cresceram sendo forçados a serem desconectados de suas emoções, educados para desempenharem apenas “tarefas de homem” e tendo sua sexualidade à prova constantemente, desde crianças. Afinal, um “homem de verdade” não chora, não gosta e não faz nada do que é considerado feminino, e quanto maior a lista de parceiras, melhor, né? Não mais.

O conceito de masculinidade tóxica consiste na reafirmação e pressão social desses padrões de comportamentos até então aceitos e esperados dos homens, enquanto apoia a antiga ideia de submissão das mulheres. O resultado? Pessoas infelizes, inseguras e incapazes de canalizar de forma positiva emoções, como frustração, raiva e angústia.

E a indústria pornô com isso?

É indiscutível o quanto a internet mudou nossas vidas. Atualmente, é possível pesquisar sobre qualquer tipo de tema e conferir milhares de conteúdos na palma da mão. E o que a princípio é uma ótima ferramenta, pode ser um verdadeiro risco quando consideramos que, muitas vezes, isso facilita também o acesso de crianças e adolescentes a sites de pornografia.

Apesar da curiosidade em relação ao corpo ser normal nesse período de desenvolvimento da vida, acreditamos que tudo deve chegar com informação. Seja em casa, com o diálogo com a família, ou na escola, com aulas de qualidade sobre o tema. Pornografia não é educação sexual e essa exposição precoce só faz com que adultos se desenvolvam com dificuldades de se relacionarem com mulheres reais.

Podemos dizer que a indústria pornô, inclusive, é um dos pilares que mais ditam os padrões estéticos em pleno 2021. Os corpos considerados “mais atraentes” e procurados ainda são os de pessoas brancas e magras, com homens de porte atlético e mulheres com seios grandes e cintura fina. Mulheres negras e latinas são tratadas como submissas e homens negros, objetificados pelo tamanho do pênis.

Outro ponto preocupante é em relação às buscas realizadas nesses sites. De acordo com uma pesquisa da Culture Reframed, organização que estuda e alerta para os prejuízos da hipersexualização praticada pela mídia e pela pornografia, 88% das cenas dos vídeos adultos mais pesquisados continham agressões físicas (engasgos, estrangulamentos, palmadas e tapas). Além das práticas violentas, não é difícil encontrar materiais que apresentam a utilização de objetos inapropriados para o sexo.

 Em outro estudo foi revelado que o consumo de pornografia está associado a uma maior probabilidade de cometer atos de agressão sexual verbal ou física, independentemente da idade. Isso porque, ao normalizar essas ações, acontece a dessensibilização da violência e a erotização de atos extremos. Independentemente do seu gosto, nosso prazer só deve ser associado a situações praticadas com consentimento e segurança.

Mesmo que muitos homens ainda acreditem na ingenuidade desses vídeos, infelizmente consumir a pornografia convencional é compactar com uma indústria bilionária que lucra com a exploração de mulheres e impõe com uma ideia negativa do que é o sexo.

Como e por que consumir conteúdos eróticos de forma saudável?

Fazendo um paralelo, se tudo que assistimos sobre a indústria alimentícia influencia na forma como nos alimentamos e tudo que acompanhamos sobre moda influencia na forma como nos vestimos, por exemplo, por que a pornografia não influenciaria na forma como fazemos sexo?

Pensar em sexo é natural, faz bem e nós amamos! Aliás, a masturbação e o consumo de conteúdo erótico, desde que de maneira saudável, só melhoram o nosso desempenho sexual e, quanto mais pensamos sobre o tema e conhecemos nosso corpo, melhores são as nossas experiências. Então, por que não focar no real, no que pode estimular os nossos sentidos?

Ao contrário do que você talvez tenha sido condicionado a acreditar, os conteúdos eróticos não se limitam apenas à indústria pornô. Essa realidade vem mudando com a criação de novos formatos e direcionamentos, como os contos eróticos (agora em plataformas de leituras digitais), podcasts adultos, produções audiovisuais independentes que contemplam a variedade de corpos e estilos e até mesmo a prática de masturbação guiada, conhecida como JOI porn (Jerk-Off Instruction) que reúne estímulos verbais e/ou visuais na busca pelo prazer.